03/09/2010

Um início

Num lampejo de tristeza profunda

Num aperto de coração

Ou num coração que esteja vazio

Tudo em volta parece lindo

Enquanto tudo dentro parece feio

E aí o que compensa?

Compensa beber para esquecer?

Compensa comprar para agradar?

Compensa comer para satisfazer?

Compensa forçar para conseguir?

Ou frustra mais se arrepender?

Ou frustra mais perceber que não vai funcionar?

....

Acho que descobri da onde nascem os vícios. (Da bebida, da comida, das compras...) Eles vêm preencher uma ausência. Suprir uma necessidade visível, ou invisível.

Bebemos para relaxar. Comemos mais do que devíamos para satisfazer. Compramos porque achamos que se o outro tem e é feliz, se tivermos seremos também. E nada disso funciona, obviamente. E aí fazemos todo o roteiro de novo.

Alguns são mais fortes, percebem a estrada que estão seguindo a tempo de frear. Outros não.

Nessas horas é bom saber que os amigos existem. A família também.

Um aviso: pare enquanto é possível. Por você.

....

Estou há dias sem escrever. Nem rascunhos tenho feito. Tem momentos em que precisamos refletir sozinhos.

4 comentários:

  1. Formas antigas de pensar a existência (como budismo e suas várias ramificações) sugerem que é o desejo e a busca constante para satisfazê-lo o que causa a sensação de “saco sem fundo”, de estar num círculo interminável, numa procura por algo que nunca deixa que se sinta suprido. Pra Jung isso fazia sentido... será?

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  2. Nossa, adorei! Muita coisa para comentar pq o assunto tem tudo a ver com minha pesquisa/livro. Pegando o gancho do budismo, na verdade não creio que o budismo tem uma concepção contrária ao desejo, o que temos é uma baita confusão em relação a tradução, a palavra klesha em páli que é traduzida como desejo, na verdade tem como tradução correta “impureza” ou “aflição”. Indo para o titio Freud (e acho que o budismo tem algo de psicanálise) o que provocaria esse “vazio” (que sempre existiu em qualquer época ou cultura, mas parece estar mais acentuado hoje) não é bem o desejar, até pq sem isso com o que nos moveríamos? A questão está na grande oferta de prazer e auto-suficiência que a cultura impõe hoje, o que deixa qualquer um perdido. Assim acontece esse deslocamento de objeto em objeto, drogas, compras excessivas, exercícios, busca do corpo perfeito (e caso vc não consiga nada disso é incompetência só sua) e como, obviamente, nada disso dá conta da angústia, o que acontece é um círculo interminável mesmo. A forma que a cultura molda o desejar é que causa todo esse sofrimento... antes os motivos eram diferentes, mas o tal vazio sempre existiu e vai existir, é constitutivo do ser-humano... (quem quiser mais sobre o assunto lê meu livro hahaha, propaganda básica).

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  3. Belíssima colocação! De fato, o que chamamos de “desejo” hoje no ocidente pode estar mesmo impregnado de resíduos multiculturais, o que faz aumentar mais ainda o desejo (rsrsrs) de ler teu livro!

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  4. Opa! Assim vou fazer um merchan na Gatos! hehehe:

    http://www.jurua.com.br/shop_item.asp?id=21213

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